segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ten Chi / Céu Terra / Japão / Pina Bausch Tanztheater Wuppertal

O espetáculo é para a compreensão, o entendimento? Respondi com esta pergunta à minha segunda impressão. A primeira eu nem captei, eu estava realmente metida num cotidiano racionalizante... Comecei com certa recusa, com não saber relacionar com.... o quê?

segue, sigo
seguem quadros da mais sutil poesia, de delicado encantamento,  rasgados por momentos  de puro espanto, humor e emoção

deixo me levar, num piscar de flashes cotidianos, ações simultâneas

acontecendo num cenário arrebatador pela simplicidade – em primeiro plano uma grande cauda de baleia “para fora da água”, mais adiante a corcova de suas costas, como uma ilha de pedra e, ainda depois, uma orca saltando
cenário estático, acinzentado, escuro até certo momento da primeira parte;  então, suavemente começa a cair uma neve de papeizinhos preenchendo todo o espaço cênico com uma brancura alva e luminosa, neve que cai até o final do espetáculo, criando uma textura cintilante, deixando o olhar ofuscado e atraído, impossível de desviar daquele Japão onírico

chuva neve papel – papel shi, papel gami/kami – espírito, conexão céu terra

'ações simultâneas' é minha primeira chave, minha pedra de toque que aproxima encantamento e entendimento

as ações dançantes seguem                                                                                     
retratos dinâmicos

casais dançam, se apaixonam, se estranham, intimidade, distanciamento, abrem em triângulo, diálogo, fecham em monólogo, casais, casais são tantos, tão diferentes, tão mesmos, tão *cópia fiel,  sempre tem algo inacessível, untouchable, uncatchable, mulheres em vestidos longos e fluidos, homens em ternos pretos, no grande espaço cintilante, debaixo da curva da cauda da baleia, na ilha de pedra, nos cantos, na borda do palco

cenas de rua, a japonesa sorridente fotografa tudo e todos, o homem chama um taxi
criança, adulto, idoso
cenas da casa, banhos, troca de roupas, refeições, acolhimento, cuidados

gestualidade banal emancipada da sua banalidade, em movimento infinito, dança, dança, dança, corpos leves fluidos flexíveis preenchidos de sopro

flexilibililidade elastilicicidade monovivomemento

dança e som, música, palavra, palavras ditas com gravidade e clareza, triviais com ar de incompreensíveis,

ideograma vocal sasesisasososushi, kakekikakekokimono

o Japão contemporâneo continua zen, o estrondo do trovão e a delicadeza da pétala de neve convivem em (in)quieta harmonia
a mulher monstro, o homem gueixa, o estranhamento do outro, o outro tão... eu.


Um senão? Sim, um senão, ou quase... no último quadro, aparentemente uma homenagem ao país anfitrião, um ritmo de samba alto forte acelerado, dançarinos correndo alucinadamente pelo palco em todas as direções, correndo acelerados, ritmo de samba, correndo... mas ninguém sambou.

para espiar, veja na próxima postagem:
http://www.youtube.com/watch?v=nos_Xqz34c8

para ler/ver:
http://www.voiceofdance.com/v1/features.cfm/1498/Dance-Review-Pina-Bausch-Tanztheater-Wuppertal-I-Ten-Chi-I-498.html

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